O Tempo e o Vento!
Sou filha do Tempo e, desde muito pequena, aprendi a calar
meus medos e dúvidas. O desejo de saber sempre mais forte do que Eu, impunha
limites que não conseguia respeitar. E, por
mais que tentasse escutar o que me diziam, era no silêncio que sempre encontrei
minhas respostas. Àquilo que sempre não foi dito, foi o mais percebido, o que
não podia ser mencionado, era interpretado, o que era para ser escondido sempre
se mostrou. Aprendi a ler nas entrelinhas, a compreender minhas dúvidas e
aproveitar esta angústia criativa como desafio de querer ir além. Carrego sempre comigo uma enorme caixa, nela
escrevo todos os pensamentos que, de repente, ansiosamente, percorrem meu corpo
a procura de respostas. Por ser Ventania, o conhecimento sempre foi partilhado com muitas
pessoas da minha caminhada, onde deixei muitos papéis pelo caminho e juntei tantos
outros. A cada dúvida, uma palavra, em cada palavra, uma emoção intensamente vivida. Sempre adorei andar por lugares que recriei e, de certa forma andei descritos e
entendidos mas tão longe do meu viver. Neste andar, pude encontrar outras caixas, maiores, menores ou de igual tamanho,
momento único quando jogávamos todas as dúvidas ao Vento, na esperança que ele
trouxesse a resposta.
Mas um dia encontrei no meu caminhar um sopro Belo, que como
eu colecionava pensamentos, porém ele não guardava em caixas, ele
simplesmente ouvia do Vento as perguntas e devolvia na mesma intensidade ao
Tempo que, poeticamente, entendia, fazia a tradução e devolvia em emoção. Neste
caminhar Ventania e Belo formaram uma linda parceria, uniram inquietudes e
souberam esperar o Tempo sem apressar o processo, apenas quebrando as certezas
e instaurando a dúvida no apreender a com Viver.
Hoje após ter convivido com ele, mesmo estando longe, trago
em meu olhar as paixões e inquietudes partilhadas por tanto Tempo. Este
processo de convivência espalhou-se pela minha trajetória. construiu quem sou e
fez-me entender o porquê de tantas inquietudes. Reconheço em cada gesto, em
cada tristeza, em cada alegria a emoção Bela que trago comigo e em mim. Hoje,
encontro no sopro do Vento as respostas que preciso, aprendi que o silêncio é a
busca para a compreensão das minhas inquietudes, mas quando partilhadas
tornam-se forma de conhecimento e entendimento. Às vezes escutar e reinventar
são a única maneira de ousar, trabalhando com a emoção é acreditando que o sonho está logo ali, basta a gente querer alcançar.