Ela colecionava sonhos que jamais se realizariam.
Caminhando por entre sonhos perdidos
ela encontrou uma porta semi aberta. Um homem de olhar familiar acena para ela
entrar. A sala amanhecida trazia na imagem da mesa um café não terminado.
Vasculhou seu olhar por entre os objetos perdidos espalhados pelo chão. Olhou
para o quarto tão próximo. Um quadro verticalizado refletia a imagem de uma
pessoa totalmente estranha. Ao lado da luz, ainda acesa, uma vela consumia o
recomeço. Andou para a esquerda e na estante viu seu livro preferido.
Aproximou-se com cuidado mirando o homem que consentiu com um sorriso.
Reconheceu sua assinatura na primeira página, uma dedicatória. Revirou o
sentimento de pertença, entendeu o que tinha perdido. Suou frio e deixou-se
cair por entre suas certezas. O homem ofereceu seu sonho perdido. Sentaram-se à
beira da mesa. O livro ainda marcado, por caneta marca texto, revelava palavras
pinçadas por quereres descobertos. Ela captou o olhar vazio, pensativo
encontrando o seu. O homem folheia calmamente a vida deles em busca do sentido.
O livro já amarelado e um pouco empoeirado vai reconstruindo uma memória
esquecida, aquecida. Ficaram assim, a folhear o Tempo com a ajuda do Vento que
soprava sem pedir licença palavras de coragem. A mão enrugada traçava o quanto
tinham vivido e o tremor anunciava a delícia de recomeçar. Colocaram o livro de
volta na estante com novas palavras marcadas por um suspiro. Ela contempla a
estante, sai caminhando por entre a ventania. Olha para trás e seus olhares
confessam:
Ele só existia para completar o sonho
jamais vivido!
2 comentários:
Uau!
A riqueza de detalhes e sentimentos que constam nesse poema são as mesmas das fotos capturadas e divulgadas por você. Esse poema é uma foto (retrato?) de forma descrita da realidade de um sentimento ou sensação, onde a vida pulsa em cada palavra e cada frase.
😉 é um contemplar de dentro para fora.
Postar um comentário