segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Despedida

Deitada sob meus lençóis, sinto um frio que entra de leve pela janela que deixei aberta. Gosto de sonhar olhando a lua e fico a observar o que ela reflete. Nela vejo minha pele nua como se estivesse diante de um espelho. Do que me lembro? Da distância de mim. Fiquei tão distante que pude observar cada detalhe que imprimi em meu corpo. Lembro-me do dia que o medo tomou conta de mim. Meu pai, ali sentado, partindo pra nunca mais voltar. Gemidos e sussurros anunciavam uma despedida, seu olhar perdera o brilho, palavras balbuciadas indicavam o fim, a vida numa tênue despedida. Naquele momento, compreendi que nada poderia fazer, a não ser ceder ao medo que se instalou. O chão não havia mais, meus pés perguntavam pra onde irão os sonhos não concretizados, o amor que era tão grande e parecia absoluto naquele instante virou suspiro. A vida nos abandona num pequeno sopro, como um vento leve e denso que dissipa no ar. O medo paralisou minha emoção e as lágrimas deram lugar ao vazio. Meu corpo foi tomado por um imenso vácuo. Mas de alguma forma me senti presenteada, contraditório, mas sabia que de mim ele despediu-se. Pude estar de mãos dadas e acompanhá-lo até a vida nos abandonar. As lembranças queimaram e consumiram meus desejos e sonhos por um longo tempo. Tempo de espera, de entendimento e aceitação. Hoje compreendo meu medo de querer, de perder, de não ter. Ele paralisou minha emoção e ação. Ao olhar meu reflexo no espelho do luar, descubro que esqueci de temer e aprendi a viver. Agora entendo o medo e concedo a ele um pequeno vão, uma fresta da minha alma. Trato-o com receio, como frenesi do que está por vir. Eu não vou mais me perder, apenas deixo que meus pés mostrem-me o caminho.

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