sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Mistério

decifrar o que não tem nexo
procuro em teus versos
respostas
o verbo antes empregado
ressente
o véu desvenda
aos poucos
só o que os loucos
podem enxergar!

Circulação

ação circular
andar na volta
e sem volta
ficar andando sem parar
formar círculos
sem sentido
vínculo
indo e vindo...vindo e indo...
sempre
pro mesmo lugar
um nome?
conversa fiada!

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

TRAMAS
Mergulho meus pés no mar, fecho os olhos e salto, sobressalto! o medo invadido, o desejo reprimido, vontade de voar, de chegar de mansinho e sussurrar para o ar toda a escuridão sentida. Clarão! instante de percepção! imensa solidão consumida, atribuída a trama do viver.Laços e entrelaços, tantas buscas, encontros e tantos abandonos. Neste instante reconheço o vão, a luz insiste a invadir as frestas que vagarosamente trocam de lugar.
Sublimar o sublime, o encanto dos fios que cruzam o caminho apontando o que ficou submerso. Inverso...inverto meus versos, revelo o avesso que a mim ainda surpreende. Subverto o convencional, a moral na busca dos versos sublimados que encontrei em teu olhar.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Nós


Fios que desafiam
a coerência
instigam
a sobrevivência
andar, flutuar
sobre eles
desatino
fazê-los parte do caminho
tropeçando
delicadamente
em seus
nós
teci caminhos

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Despedida

Deitada sob meus lençóis, sinto um frio que entra de leve pela janela que deixei aberta. Gosto de sonhar olhando a lua e fico a observar o que ela reflete. Nela vejo minha pele nua como se estivesse diante de um espelho. Do que me lembro? Da distância de mim. Fiquei tão distante que pude observar cada detalhe que imprimi em meu corpo. Lembro-me do dia que o medo tomou conta de mim. Meu pai, ali sentado, partindo pra nunca mais voltar. Gemidos e sussurros anunciavam uma despedida, seu olhar perdera o brilho, palavras balbuciadas indicavam o fim, a vida numa tênue despedida. Naquele momento, compreendi que nada poderia fazer, a não ser ceder ao medo que se instalou. O chão não havia mais, meus pés perguntavam pra onde irão os sonhos não concretizados, o amor que era tão grande e parecia absoluto naquele instante virou suspiro. A vida nos abandona num pequeno sopro, como um vento leve e denso que dissipa no ar. O medo paralisou minha emoção e as lágrimas deram lugar ao vazio. Meu corpo foi tomado por um imenso vácuo. Mas de alguma forma me senti presenteada, contraditório, mas sabia que de mim ele despediu-se. Pude estar de mãos dadas e acompanhá-lo até a vida nos abandonar. As lembranças queimaram e consumiram meus desejos e sonhos por um longo tempo. Tempo de espera, de entendimento e aceitação. Hoje compreendo meu medo de querer, de perder, de não ter. Ele paralisou minha emoção e ação. Ao olhar meu reflexo no espelho do luar, descubro que esqueci de temer e aprendi a viver. Agora entendo o medo e concedo a ele um pequeno vão, uma fresta da minha alma. Trato-o com receio, como frenesi do que está por vir. Eu não vou mais me perder, apenas deixo que meus pés mostrem-me o caminho.

Sombras

(...) Mas as falsas sombras me perseguem, fixo o olhar na parede fria e azulada, que por entre as frestas aparecem. Seus movimentos soam contínuos e minhas lembranças aceleram ainda mais. As falsas sombras que vejo recorrem a minha ilusão em tê-lo. Estou petrificada, mas a silhueta é de uma dança já conhecida. Dois amantes a procura do achado, perdidos nos abraços e beijos intermináveis, línguas que sem pudor desvelam o amor e a dor de não ser Sombra...imagem real ou irreal? Movimentos alucinantes de mãos percorrendo corpo, corpo percorrendo formas... oco...sufoco..louco..ouço a transpiração da vida, vida de sombra. Sendo forma disforme não reconheço e nem pode ser reconhecida. Mas lá no íntimo sei que estas sombras foram vida, pulsação, ação, tesão... paixão.
Agora são apenas sombras que assombram meu adormecer.(...)

domingo, 27 de janeiro de 2008

Passos



Ela caminha, abandonou seus passos livres sem calçados, calçou os pés em busca de um caminho. Sentou na grama úmida do entardecer e viu o abismo florescer. O que estava tão confuso, foi no abandono, no escuro, que conseguiu ver.
O olhar revelou o desejo, o entendimento subjetivado das palavras mostrou o conhecimento. Aos poucos, reparou no oculto, pressentiu e ouviu a emoção dedicada.
Ela sempre quis ser livre, via o afeto como prisão, defesa do medo! Despe as verdades e nua pede que a prenda em seus braços. Agora consegue ver na escuridão, confusão, com fusão.. pressente o que está por vir.
Palavras reveladas no mais íntimo silêncio, a ausência que transforma em presença. Palavras ditas, o não revelado...a voz que ouve com a razão. A verdade dita e pronunciada tantas vezes. A frustração que eleva a dor, o cuidado que leva ao entendimento, o distanciamento necessário, o tempo de reconhecer o amor!!!
Agora ela olha para ele de frente, palavras faladas com emoção, o elo na contramão do real, sua vida tão longe e tão perto.
Os passos incertos levaram-na a outro lugar, revelação! Mesmo distante escutou sua voz, sua gargalhada. O vento soprou que ele a adora. Não dá pra disfarçar, ela tenta mas não quer se enganar, está inteira, intensa mas a emergência dissipou pra outro lugar.
Agora sonha com os pés no chão, sabe que amar não é só um vento, pede mais que um momento, é algo que vem de dentro, num movimento próprio e quer pertencer. Não! não quer esconder o encantamento persiste e insiste em querer.
Levanta com a leveza conquistada e caminha passo a passo, não quer mais correr, atropelar o que é essencial. Descobre o que parecia não ter nexo, escuta do vento respostas que somente ela poderá compreender.
Chris